sábado, 9 de dezembro de 2017

As Missas Rorate no Advento

O tempo do Advento é marcado por uma série de celebrações e símbolos caros à piedade popular: a coroa do Advento, a novena de Natal, a preparação do presépio e da árvore de Natal, entre outros. Nesta postagem gostaríamos de falar de uma destas práticas de piedade, perfeitamente harmonizada à Liturgia, que poderia ser mais valorizada em nossas comunidades: a Missa Rorate.

Confira nossa postagem sobre a história do Tempo do Advento clicando aqui.

A Missa Rorate consiste na celebração da Missa votiva de Nossa Senhora na madrugada dos sábados do Advento, pouco antes do nascer do Sol. Nesta celebração, extraordinariamente, a igreja está às escuras, iluminada apenas pela chama de várias velas espalhadas pelo altar e pela nave.


O nome desta celebração (“Rorate”), recorda a antífona de entrada da celebração em latim: “Roráte, coeli, désuper, et nubes pluant iustum; aperiátur terra, et gérminet Salvatórem”, isto é, “Céus, deixai cair o orvalho; nuvens, chovei o justo; abra-se a terra e brote o Salvador” (Is 45,8).

O simbolismo desta prática é muito rico: no Tempo do Advento a Igreja espera a vinda do seu Salvador, Jesus Cristo, a Luz do mundo. As velas acesas simbolizam nossa esperança, enquanto que o Sol nascente, que vai pouco a pouco iluminando a igreja, simboliza a realização da promessa com o nascimento do Senhor que, como expresso no cântico de Zacarias, “sobre nós fará brilhar o Sol nascente” (Lc 1,78).

Nesta celebração, unimo-nos à Virgem Maria nesta espera, uma vez que se celebra sua Missa votiva. Com efeito, o Advento é um tempo fortemente mariano, como afirma o Papa São Paulo VI (†1978):

“Os fiéis que procuram viver com a Liturgia o espírito do Advento, ao considerarem o amor inefável com que a Virgem Mãe esperou o Filho, serão levados a tomá-la como modelo e a prepararem-se, também eles, para irem ao encontro do Salvador que vem, ‘bem vigilantes na oração e... celebrando os seus divinos louvores’” (Exortação Apostólica Marialis cultus, n. 4).


Nesta celebração podem ser usados quatro formulários: a Missa do Comum de Nossa Senhora no Advento, que consta no Missal Romano (pp. 736-737), ou um dos três formulários para o Advento da Coletânea das Missas de Nossa Senhora:
Maria, filha eleita de Israel (Coletânea, pp. 33-36);
Maria na Anunciação do Senhor (pp. 37-39);
Visitação da Virgem Maria (pp. 41-43).
Preferencialmente profiram-se as leituras do dia, para não interromper a leitura semicontínua da profecia de Isaías. Contudo, podem também ser proferidas as leituras da respectiva Missa votiva.

Estas Missas, porém, só podem ser celebradas até o dia 16 de dezembro, pois a partir do dia 17 a Igreja entra no período de preparação próxima para o Natal. E, seguindo o antigo costume, as Missas Rorate são celebradas apenas no sábado, uma vez que este é o dia que a piedade popular dedica à memória da Virgem.

Por fim, embora não seja normativo, convém celebrar esta Missa “ad Orientem” ou “versus Deum”, isto é, com o sacerdote e o povo voltados na mesma direção durante a Liturgia Eucarística. Assim, expressa-se de maneira mais clara a única esperança da Igreja no Senhor que vem.

Não estamos falando aqui em celebrar na Forma Extraordinária do Rito Romano, nem em celebrar em latim, embora tanto um quanto outro sejam permitidos. A celebração “versus Deum” é perfeitamente possível na forma ordinária e em língua vernácula. 


Por fim, é preciso dizer que o uso de celebrar com a Igreja às escuras, apenas com a luz de velas, é aqui fruto de uma antiga e venerável tradição. Introduzir este uso em outras celebrações, apenas para fomentar “sentimentalismos” ou como “efeito teatral”, constitui abuso litúrgico e desconhecimento do espírito da Liturgia.

Que possamos redescobrir a beleza das Missas Rorate no tempo do Advento. Acompanhadas de uma autêntica catequese, serão ocasiões privilegiadas de evangelização. Assim, poderemos renovar o pedido que conclui o livro do Apocalipse e com ele toda a Escritura:

“O Espírito e a Esposa dizem: Vem! (...) Amém! Vem Senhor Jesus!” (Ap 22,17.20).

Antífona Rorate coeli:


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