quarta-feira, 13 de agosto de 2014

História da Solenidade da Assunção de Maria

“Alegremo-nos todos no Senhor, celebrando este dia festivo em honra da Virgem Maria: os anjos se alegram pela sua Assunção e dão glória ao Filho de Deus”.

Com estas palavras a Igreja de Rito Romano dá início à Missa da Solenidade da Assunção da Virgem Maria, ou Assunção de Nossa Senhora, que os cristãos do Oriente e do Ocidente celebram em uníssono no dia 15 de agosto.

Nesta postagem gostaríamos de traçar brevemente a história dessa que é a mais antiga e a mais importante das festas em honra da Virgem Maria.

Assunção (detalhe) - Peter Paul Rubens

1. A origem da Festa da Dormição no Oriente

Os últimos testemunhos sobre a Virgem Maria no Novo Testamento atestam sua presença junto à cruz do Senhor (Jo 19,25-27) e junto aos Apóstolos perseverantes na oração entre a Ascensão e o Pentecostes (At 1,12-14).

Essa dupla relação de Maria, com Cristo e com a Igreja, que foi resgatada pelo Concílio Vaticano II, sobretudo através do capítulo VIII da Constituição Dogmática Lumen Gentium, será fundamental para compreender a história da festa da Assunção.

As primeiras reflexões teológicas a respeito do fim da vida de Maria remontam ao final do século IV, quando Padres da Igreja como Santo Efrém (†373) ou Santo Epifânio de Salamina (†403) apresentam diferentes hipóteses.

A partir dos séculos V-VI se propagam, sobretudo no Oriente, os relatos apócrifos do “ciclo da Assunção”. Os principais textos sobre o “Transitus Mariae” - isto é, sobre a “passagem” da Virgem Maria da vida terrena para a vida eterna - apresentam uma série de elementos comuns, com pequenas variações:

Primeiramente, o anjo Gabriel anuncia à Virgem Maria sua morte próxima, trazendo-lhe como sinal um ramo de palmeira, símbolo da vitória dos justos (cf. Sl 91,13-16; Ap 7,9).

Na sequência, os Apóstolos são milagrosamente transportados para o local onde se encontra a Virgem Maria (exceto Tomé, em algumas versões). Os Apóstolos contam a Maria suas atividades missionárias e eles rezam juntos, quando ela manda oferecer incenso, pois Cristo se aproxima com os seus anjos. No momento da morte de Maria, Cristo acolhe sua alma em seus braços e a leva para o céu;

Os Apóstolos então se preparam para sepultar o corpo de Maria, encontrando alguma resistência por parte dos judeus. Ao terceiro dia o túmulo é encontrado vazio. Em algumas versões é Tomé que, chegando “atrasado”, encontra o túmulo vazio; em outras versões, Tomé é testemunha da própria assunção do corpo da Virgem ao céu, a qual lhe dá seu cinto como sinal [1].

Escada que dá acesso à igreja da Tumba de Maria no Monte das Oliveiras

Segundo a tradição, Maria teria morrido no Cenáculo, no monte Sião, local que a associa aos Apóstolos, e teria sido sepultada no Monte das Oliveiras, próximo ao local da Ascensão, o que reforça seu vínculo com o Filho.

De acordo com Mario Righetti (†1975), grande historiador da Liturgia, a versão siríaca do De transitu Mariae elenca três festas em honra da Mãe de Deus, todas ligadas ao ciclo das estações e ao calendário agrícola: 25 de janeiro para a semeadura (de seminibus), 15 de maio para a colheita dos grãos (ad aristas) e 15 de agosto para a colheita da uva (pro vitibus).

As primeiras duas festas caíram em desuso, conservando-se a do dia 15 de agosto. Segundo alguns historiadores, a escolha desse dia estaria relacionada à dedicação da igreja da “tumba da Virgem Maria” no Monte das Oliveiras em Jerusalém, após a definição dogmática de Maria como Mãe de Deus (Theotokos) no Concílio de Éfeso (431).

Inicialmente a festa do dia 15 de agosto era uma celebração “genérica” em honra da Mãe de Deus, sem referência a um episódio concreto da sua vida. Na Terra Santa e na Síria, porém, desde o século VI se contemplava nesse dia o mistério da Dormição da Mãe de Deus, como atestam, por exemplo, os hinos de São Tiago de Sarug (†523).

Uma vez que a principal festa do Senhor é a Páscoa - isto é, o Tríduo Pascal da sua Morte, Sepultura e Ressurreição -, é natural que a principal festa da Virgem-Mãe, “indissoluvelmente unida à obra de salvação do seu Filho” (Sacrosanctum Concilium, n. 103), contemplasse também sua morte/dormição, sepultura e ressurreição/assunção.

O mesmo vale para as festas dos santos, que geralmente marcam o seu “dies natalis”, o dia do seu “nascimento” para a vida eterna, nas quais a Igreja “proclama o Mistério Pascal realizado neles” (ibid., n. 104).

Ícone da Dormição da Mãe de Deus
(Confira nossa postagem sobre o simbolismo desse ícone)

Nesse sentido, o Papa São Paulo VI (†1978) em sua Exortação Apostólica Marialis Cultus define a Assunção de Maria como  festa “da sua perfeita configuração com Cristo Ressuscitado”, que “ propõe à Igreja e à humanidade a imagem e o consolante penhor do realizar-se da sua esperança final”.

Assim, mais do que um “privilégio”, a Assunção é “modelo”, como bem sintetiza o Catecismo da Igreja Católica: “A Assunção da Santíssima Virgem é uma singular participação na Ressurreição do Filho e uma antecipação da ressurreição dos cristãos” (n. 966). Maria já é aquilo que toda a Igreja será.

Considerando o papel singular de Maria na história da salvação, os cristãos orientais sempre utilizaram o eufemismo “dormição” (em grego, κοίμησις, koimésis) para referir-se ao caráter pacífico da sua morte. Alguns teólogos, em contrapartida, sobretudo no Ocidente, defendiam que ela havia sido elevada aos céus de corpo e alma sem passar pela morte, como o profeta Elias (cf. 2Rs 2).

No final do século VI o Imperador bizantino Maurício (†602) ordenou que a Festa da Dormição fosse celebrada em todas as igrejas do seu Império. Assim, esta passou a contar-se como uma das Doze Grandes Festas do Rito Bizantino, sendo inclusive precedida por duas semanas de jejum, desde o dia 01 de agosto (uma “pequena Quaresma”), e prolongando-se até o dia 23 (“pós-festa”).

Vale destacar que o Ano Litúrgico Bizantino começa em setembro, com a Festa da Natividade da Mãe de Deus no dia 08, e termina em agosto com sua Dormição. A vida de Maria serve assim de “moldura” ao mistério de Cristo, centro de toda celebração cristã.

Cabe recordar, porém, que a maioria das Igrejas Orientais (tanto Católicas quanto Ortodoxas) segue o calendário juliano, com uma diferença de 13 dias em relação ao gregoriano. Assim, o dia 15 de agosto no calendário juliano corresponde a 28 de agosto no gregoriano.

Nessa festa, algumas igrejas bizantinas expõem à veneração dos fiéis e conduzem em procissão o epitaphios (ἐπιτάφιος) ou epitaphion (ἐπιτάφιον), um ícone de pano com a imagem da Dormição ou simplesmente de Maria morta.

Epitaphios da Theotokos

Em tua Maternidade conservaste a virgindade e em tua Dormição não abandonaste o mundo, ó Mãe de Deus. Foste levada para a vida sendo a Mãe da Vida, e por tuas orações resgatas nossas almas da morte
(Tropárion da Festa da Dormição).

 2. A acolhida da Festa da Assunção no Ocidente

No Ocidente, os relatos apócrifos do Transitus Mariae não tiveram o mesmo prestígio, de modo que a celebração do dia 15 de agosto chegou um pouco mais tarde. Vale lembrar que em Roma, desde o século IV, a principal celebração da Mãe de Deus tinha lugar no dia 01 de janeiro, oitava do Natal do Senhor.

A partir da segunda metade do século VI é testemunhada uma celebração “genérica” em honra da Virgem Maria no Rito Franco-Galicano (França), inicialmente em 18 ou 25 de janeiro e logo transferida para o dia 15 de agosto.

Vale recordar, com efeito, que mesmo algumas comunidades protestantes mais tradicionais, como anglicanos ou luteranos, conservam até hoje a data de 15 de agosto como dia festivo em honra de “Santa Maria, Mãe de nosso Senhor”.

Os livros litúrgicos do século VII, como o Missal de Bobbio e o Sacramentário Gelasiano trazem um formulário de Missa In adsumptione Sanctae Mariae, de influência galicana. Este, porém, contém ainda orações e leituras bastante “genéricas”. O Evangelho proclamado, por exemplo, era Lc 10,38-42, Jesus na casa de Marta e Maria, destacando que “Maria escolheu a melhor parte”.

No Lecionário de Würzburg, de meados do século VII, por sua vez, já aparece a Missa do dia 15 de agosto como Natale Sanctae Mariae, referindo-se ao “dies natalis” da Virgem, o dia do seu “nascimento” para a vida eterna.

Imagem de Maria morta
(Abadia da Dormição - Monte Sião, Jerusalém)

No final do século VII é fundamental a atuação do Papa São Sérgio I (†701). Apesar de ter nascido em Palermo (Itália), sua família era de origem síria: assim, após sua eleição como Bispo de Roma em 687, popularizou diversas festas orientais, incluindo a Dormição (Dormitio Beatae Mariae), prescrevendo para elas uma procissão solene (litania). Para saber mais, confira nossas postagens sobre a Anunciação e a Apresentação do Senhor.

O Ordo Romanus XI, compilado no século XII por um cônego da Basílica de São Pedro, descreve o rito dessa procissão, que perdurou até o século XVI, quando foi suprimida pelo Papa São Pio V (†1572) no contexto das reformas do Concílio de Trento.

Na tarde do dia 14 de agosto celebravam-se as I Vésperas da Solenidade e as Matinas com nove leituras na Basílica de Santa Maria Maior, com a presença do Papa. Próximo à meia-noite, este se dirigia com os Cardeais à capela de São Lourenço junto à Basílica do Latrão, chamada Sancta Sanctorum (“Santo dos santos”), a qual abrigava a imagem acheropita do Salvador.

O termo acheropita significa “não feito por mãos”, uma vez que se atribuía uma origem miraculosa ao ícone, que representa a imagem de Cristo em tamanho quase natural. Para saber mais sobre essa histórica imagem, confira nossa postagem sobre o rito do Ressurrexit na Missa do Domingo de Páscoa.

Após venerar a imagem, o Papa recitava a célebre coleta “Veneranda nobis, Domine, huius diei festivitatis...”, proclamando que Maria morreu mas não foi presa pelos laços da morte. Posteriormente essa oração seria acolhida na Missa, até ser suprimida pela reforma do Concílio de Trento.

Concluída a oração, formava-se a procissão luminosa até a Basílica de Santa Maria Maior. Os diáconos levavam a imagem do Salvador em um portatorium (andor), acompanhados pelo Papa, pelos Cardeais e pelo povo, que entoavam a Ladainha de Todos os Santos e alguns salmos. Todos levavam velas ou tochas acesas e as casas no caminho da procissão eram ornadas com velas e flores.


Essa procissão com o ícone do Salvador remete diretamente ao texto do De transitu Mariae, que narra como Cristo vem buscar a alma de sua Mãe, “tema” imortalizado no ícone bizantino da Dormição.

Ao longo do trajeto, a procissão parava em algumas “estações”, nas quais os pés da imagem eram lavados com o basilicum, uma infusão de flores e ervas aromáticas. Este, em seguida, era aspergido sobre os fiéis, que cantavam repetidas vezes: Kyrie eleison! Christe eleison! Kyrie eleison! (No Rito Bizantino esse rito é realizado até hoje na Festa da Exaltação da Santa Cruz).

Ao chegar à Basílica de Santa Maria Maior, já próximo ao amanhecer, o Papa celebrava a Missa e abençoava os fiéis, cansados pela longa procissão.

Após a introdução da procissão por Sérgio I, a festa da Assunção rapidamente se popularizou no Ocidente. Esse será, com efeito, o título que se consolidará no Rito Romano: Assumptione Beatae Mariae Viriginis, “Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria”.

O Papa São Leão IV (†855) enriqueceria a Solenidade da Assunção com uma Missa da Vigília, característica das grandes solenidades (Páscoa, Natal, Pentecostes...), e com uma Oitava, uma celebração prolongada por oito dias, sendo o último dia - no caso, 22 de agosto - o mais solene.

Os textos da Missa da Assunção, conhecida como Gaudeamus, em referência à antífona de entrada, terminariam de desenvolver-se no século XI: Gaudeámus omnes in Dómino, diem festum celebrántes sub honóre Maríae Vírginis, de cuius Assumptióne gaudent Angeli, et colláudant Fílium Dei.

São Leão IV (†855):
Papa que promoveu a Festa da Assunção

Em relação aos costumes medievais ligados à Festa da Assunção encontra-se a bênção das ervas medicinais e das flores (em alemão, kräuterweihe), conservada até hoje em alguns lugares, como Alemanha ou Polônia (cf. Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia, n. 181).

Tal costume remete-nos à própria origem da festa, ligada ao calendário agrícola e às estações do ano: o dia 15 de agosto coincide com o auge do verão no hemisfério norte, quando algumas plantas e cereais terminam de desabrochar.

Assim, considerando que a Virgem Maria é invocada com vários títulos ligados ao mundo vegetal (sobretudo tomados do Cântico dos Cânticos e do Eclesiástico), era natural invocar sua proteção contra calamidades naturais através da bênção das ervas (evitando, porém, toda forma de superstição ou visão “mágica”).

Essa bênção tinha lugar no final da Missa, com algumas orações que remontam ao século X, conservadas na edição do Rituale Romanum anterior à reforma do Concílio Vaticano II (Benedictio Herbarum in Festo Assumptionis Beatae Mariae Virginis), compostas por uma anamnese (memorial) louvando a bondade do Senhor na criação das plantas e uma epiclese (invocação) suplicando a proteção contra todos os males.

Würzbüschel
(Ramo de ervas abençoado na Festa da Assunção)

Por fim, cumpre destacar as belíssimas peças musicais compostas para a Missa da Solenidade no final da Idade Média, incluindo a Messe de Notre Dame de Guillaume de Machaut (†1377), um dos marcos do início da polifonia sacra (ars nova):


3. Da proclamação do dogma à reforma do Concílio Vaticano II

O percurso pela história da celebração da Assunção conduz-nos ao dia 01 de novembro de 1950, quando o Papa Pio XII (†1958), através da Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, proclamou o dogma da Assunção da Virgem Maria:

“Depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito de verdade, para glória de Deus onipotente, que à virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta Mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que a Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial” [2].

Pio XII proclama o dogma da Assunção


A proclamação do dogma foi ocasião para a reforma da Liturgia do dia 15 de agosto e da Ladainha de Nossa Senhora (Ladainha Lauretana), à qual foi acrescentada a invocação “Rainha assunta ao céu, rogai por nós” (Regina in caelum assumpta, ora pro nobis).

Mantendo intacto o formulário da Missa da Vigília, cujas orações remontavam ao Sacramentário Gregoriano (séc. VIII), a reforma se centrou na Missa do Dia, propondo novas orações que exprimissem melhor o conteúdo da festa:

- a oração do dia ou coleta (Omnípotens sempitérne Deus, qui Immaculátam Vírginem Maríam...), relacionando a Assunção à Imaculada Conceição, proclamada como dogma em 1854 por Pio IX (†1878);
- a oração sobre as oferendas (Ascéndat ad te, Dómine, nostrae devotiónis oblátio...);
- e a oração após a Comunhão (Sumptis, Dómine, salutáribus sacraméntis...).

Quanto às leituras, até então eram proclamados os seguintes textos: Eclo 24,11-13.15-20; Sl 44,11-12; Lc 10,38-42. A reforma de 1950, por sua vez, optou pelas seguintes perícopes: Jt 13,22-25; 15,10; Sl 44,11-12.14; Lc 1,41-50.

Na sequência foi reformada também a Liturgia das Horas da Solenidade, incluindo três hinos compostos pelo sacerdote jesuíta Vittorio Genovesi (†1967) - O prima, Virgo, pródita; Surge! Iam terris fera bruma cessit; Solis, o Virgo, radiis amicta - e as leituras para as Matinas [3].

A reforma litúrgica do Concílio Vaticano II conservará o hino do Padre Vittorio Genovesi para as Laudes, resgatando outros dois hinos de São Pedro Damião (†1072):
I e II Vésperas: Gaudium mundi, nova stella caeli (Nova estrela do céu);
Ofício das Leituras: Aurora velut fulgida (Com uma graça toda sua);
Laudes: Solis, o Virgo, radiis amicta (De sol, ó Virgem, vestida).

Assunção de Maria (Peter Paul Rubens)

Quanto à Celebração Eucarística, a reforma litúrgica manteve intactas as orações propostas em 1950 para a Missa do Dia [4], acrescentando novas leituras do Novo Testamento, que destacam o vínculo entre Maria e a Igreja: Ap 11,19a; 12,1.3-6a.10ab; Sl 44,10-12.16; 1Cor 15,20-27a; Lc 1,39-56.

Foi elaborado também um Prefácio próprioDe gloria Mariae Assumptae (na tradução brasileira, “A glória de Maria”), inspirado sobretudo no n. 68 da Constituição Lumen Gentium.

Missa da Vigília também foi conservada [5], para a qual foram propostas novas orações, relativamente “genéricas” [6] e leituras, destacando a associação da Virgem Maria com a arca da aliança: 1Cr 15,3-4.15-16; 16,1-2; Sl 131,6-7.9-10.13-14; 1Cor 15,54-57; Lc 11,27-28. Anteriormente lia-se Eclo 24,23-31 e Lc 11,27-28, enquanto o salmo era substituído por alguns versos em honra da Mãe de Deus.

A Missa da Vigília também adquiriu um tom mais “festivo”, uma vez que até então possuía um caráter “penitencial”, inclusive com o uso de paramentos roxos. Atualmente utilizam-se os paramentos brancos ou festivos e entoa-se o Glória.

Em alguns lugares, como no Monte das Oliveiras em Jerusalém, a Vigília, na noite do dia 14 de agosto, centra-se na morte/dormição da Virgem, enquanto a Missa do Dia proclama solenemente sua ressurreição/assunção. Confira algumas imagens dessas celebrações (2022) clicando aqui.

Mosaico da Assunção na Basílica do Rosário em Lourdes (França)

Vale destacar aqui as particularidades litúrgicas do Santuário de Nossa Senhora em Kalwaria Zebrzydowska (Polônia), que celebra a Assunção no domingo após o dia 15 de agosto como uma espécie de “Tríduo Pascal” mariano:
- na sexta-feira se recorda a morte de Maria com uma procissão e a Missa;
- no sábado, em memória da sua sepultura, não há nenhuma celebração;
- e no domingo, por fim, o “tríduo” culmina com a Missa solene da Assunção.
Confira algumas imagens da festa de Nossa Senhora de Kalwaria (2022) clicando aqui.

A possibilidade de transferir a Solenidade da Assunção para o domingo seguinte ao dia 15 de agosto - como é o caso aqui no Brasil -, de modo a favorecer a maior participação dos fiéis, é outro mérito da reforma conciliar.

A oitava da Solenidade da Assunção, por sua vez, que até então se celebrava do dia 15 ao dia 22 de agosto, foi suprimida (sendo conservadas apenas as oitavas da Páscoa e do Natal).

Não obstante, considerando a unidade entre os mistérios da Virgem Maria “elevada ao céu em corpo e alma” e “exaltada por Deus como rainha” (Lumen Gentium, n. 59), a reforma litúrgica transferiu para o dia 22 de agosto a Memória de Nossa Senhora Rainha, como “conclusão” da “oitava da Assunção”, substituindo a Memória do Imaculado Coração de Maria, que se celebrava nesse dia desde 1944.

Deus eterno e todo-poderoso, que elevastes à glória do céu em corpo e alma a imaculada Virgem Maria, Mãe do vosso Filho, dai-nos viver atentos às coisas do alto a fim de participarmos da sua glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém
(Oração do dia da Solenidade da Assunção).

Assunção de Maria (Guido Reni)

Notas:

[1] cf. PROENÇA, Eduardo de [org.]. Apócrifos e pseudo-epígrafos da Bíblia, v. I. São Paulo: Fonte Editorial, 2005, pp. 759-776.

[2] PIO XII. Constituição Apostólica Munificentissimus Deus. 01 de novembro de 1950. Acta Apostolicae Sedis, vol. 42 (1950), pp. 753-771.793-794.
O texto da Constituição Apostólica encontra-se disponível em português no site da Santa Sé.

Dentre as leituras para as Matinas encontram-se: Gn 3,9-15; 1Cor 15,20-26.53-57; e trechos dos Sermões de São João Damasceno (†749) e da própria Constituição Munificentissimus Deus.

[4] cf. MISSAL ROMANO. Tradução portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1991, pp. 638-640.

[5] Além da Assunção de Nossa Senhora, apenas outras seis Solenidades possuem atualmente uma Missa da Vigília própria: Páscoa, Natal, Pentecostes, Epifania, Ascensão do Senhor, Natividade de São João Batista e São Pedro e São Paulo.

[6] cf. MISSAL ROMANO, pp. 637-638.

Referências:

ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico: Sua história e seu significado segundo a renovação litúrgica. São Paulo: Loyola, 2019, pp. 155-157.

BERGAMINI, Augusto. Cristo, festa da Igreja: O Ano Litúrgico. São Paulo: Paulinas, 2004, pp. 461-466.

DONADEO, Madre Maria. O Ano Litúrgico Bizantino. São Paulo: Ave Maria, 1998, pp. 64-68.

LODI, Enzo. Os Santos do Calendário Romano: Rezar com os Santos na Liturgia. São Paulo: Paulus, 1992, pp. 319-322.

RIGHETTI, Mario. Historia de la Liturgia, vol. I: Introducción general; El año litúrgico; El Breviario. Madrid: BAC, 1955, pp. 895-904.

SARTOR, Danilo. Assunção: Celebração litúrgica. in: DE FIORES, Stefano; MEO, Salvatore [org.]. Dicionário de Mariologia. São Paulo; Paulus, 1995, pp. 186-190.

SCHUSTER, Cardeal Alfredo Ildefonso. Liber Sacramentorum: Note storiche e liturgiche sul Messale Romano; v. VIII: I Santi nel Mistero della Redenzione (Le Feste dei Santi dall'ottava dei Principi degli Apostoli alla Dedicazione di S. Michele). Torino-Roma: Marietti, 1932, pp. 30-41.180-186.

Confira também:


Postagem publicada originalmente em 13 de agosto de 2014. Revista e ampliada em 12 de agosto de 2022.

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